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terça-feira, 3 de abril de 2012

Crítica x pensamento crítico

Esse é um post um tanto diferente dos posts típicos deste blog. Não trata exatamente da Movimente-se, do que acontece diretamente na UEM e das falsas campanhas feitas pela chapa, mas está relacionado ao que acontece nela - não só nela, mas em diversos movimentos e organizações esquerdistas. E é algo que realmente me incomoda.
Vou chamar isso de distorção do pensamento crítico.
O termo pensamento crítico é bastante utilizado e disseminado nos cursos de humanas, e em oposição, praticamente inexistente nos cursos das outras áreas. Desde o primeiro ano, os calouros começam a ser cobrados quanto ao desenvolvimento do tal "pensamento crítico", sempre num contexto que fala sobre os enganos e mentiras que nossa sociedade cria para que continuemos a manter o sistema. Para os leitores de exatas e biológicas, cujos professores nunca falaram a respeito disso (e talvez desconheçam o conceito), o pensamento crítico é um julgamento reflexivo emitido por alguém acerca de algo. Segundo definição de Parker & Moore, seria a determinação cuidadosa e deliberada sobre aceitar, rejeitar ou suspender o julgamento acerca de uma dada afirmação e o grau de confiança que alguém deve aceitar ou rejeitá-lo.
O pensamento crítico é uma ferramenta fundamental para nossa vida, pelo simples fato que é através das reflexões feitas que podemos avaliar se algo é verdadeiro ou falso; ou qual a parcela de verdades e mentiras contidas em determinado argumento e qual é a importância daquilo em nossas vidas. Mesmo sem conhecer o conceito, podemos exercitá-lo muito bem, o tempo todo, sem perceber.
Contudo, como já citei, percebo uma distorção desse conceito nos movimentos estudantis esquerdistas. Já ouvi diversas vezes, para citar o exemplo da UEM, o pessoal da Movimente-se - ao discutir com pessoas de opiniões diversas - acusá-los de falta de pensamento crítico (junto com as acusações comuns, de serem alienados e etc). No entanto, o grande "pecado" dessas pessoas - veja só - é exatamente questionar os ideais  da chapa.
A esquerda costuma achar-se muito "crítica" por tentar romper com o status quo, desmistificar o sistema em que vivemos, encontrar todas as táticas de dominação e controle de massa impostas pela "classe burguesa"  e bradar aos quatro ventos que todos nós somos alienados por não nos movimentarmos contra isso e continuarmos fomentando a desigualdade social. E o que fazem quanto a isso? Criticam, é claro. Pegam o "Manifesto do Partido Comunista" (alguns nem isso fazem, confiam plenamente no que é dito pelos "líderes"), e, pautados nas idéias do nosso adorado camarada Marx, escritas há 150 anos e baseadas  numa sociedade um pouquinho diferente (só um pouquinho... não.), começam a criticar todos os aspectos do capitalismo atual. Tomam ele como um enorme flagelo e culpam o sistema por todas as mazelas que causam o sofrimento por aí, como o abandono de animais, a desocupação do Pinheirinho, o machismo e até mesmo a causa palestina de luta por suas terras (alguém da Movimente-se pode POR FAVOR me explicar por que diabos vocês estão afiliados a essa causa e qual a relação dela com o movimento estudantil?). E por aí vai.
Não escrevi tudo isso para defender nosso atual sistema. O capitalismo é um modelo de relações feito por pessoas, e por isso, é falho e tem sim suas desigualdades e erros, assim como pontos positivos. Essas características, ao contrário do que devem pensar nossos amigos esquerdistas, estariam presentes em qualquer outro modelo político e social, seja o comunismo, o anarquismo, ou seja lá qual o novo movimento defendido nas novas pichações da Zona 7. Meu grande incômodo está na forma como a Movimente-se e o pessoal da esquerda lida com esse sistema. São todos idiotas e doutrinados. Aceitam, sem ousar questionar, as ideologias proferidas por professores traumatizados com a época da Ditadura Militar, totalmente avessos à direita; da mesma forma que lêem Marx como um cristão fanático lê a Bíblia. Nossos amigos de esquerda, que tentam nos ofender dizendo que não temos pensamento crítico quanto à nossa sociedade e que nos deixamos ser alienados, lendo a Veja e assistindo a Globo; fazem a mesma coisa quando lêem a Carta Capital e outros veículos midiáticos do gênero. Eles não refletem, não questionam, não exercitam o bendito pensamento crítico. Por uma razão, talvez: não se questiona a revolução. Seja ela no Pinheirinho, na Palestina ou em qualquer lugar, aquele que se rebela e mostra a injustiça que sofre é sempre aquele que tem razão. E eu me pergunto: será que nunca ocorreu a essas pessoas que todos nós sofremos injustiças o tempo todo... e nem por isso resolvemos nos rebelar?
E assim, eles trocam o pensamento crítico pela crítica não pensada, e a palavra chave é a doutrinação feita pelas autoridades deles - curioso, para um grupo de pessoas que prega a igualdade completa. Mais curiosa ainda é a quantidade de adeptos que o discurso inflamado e roto acerca de nosso sistema desigual e cruel consegue arrebatar adeptos... mas isso é um assunto do qual pretendo falar em outro momento. É a mera crítica vazia, não construtiva e agressiva, feita só de palavras ásperas que condenam o sistema e quem o defende, sem considerar que nele possa haver algo de bom e valioso - claro, porque isso vai contra os ideais Marxistas.
Aparentemente, são pessoas que não pensam por si. Pessoas incapazes de assumir que o sistema cruel tem seu lado bom e de formar seu próprio conjunto de opiniões. É difícil sustentar um conjunto próprio de ideologias, e então, eles preferem aceitar um discurso já colocado há diversos anos - que não necessariamente ainda é válido.
Amigos esquerdistas e/ou da Movimente-se, pra vocês que não chegaram ao seu arcabouço ideológico sozinhos, fica a dica: critiquem-no e encontrem suas falhas e discordâncias. Prometo que é um exercício mais benéfico do que a doutrinação pela qual a maioria de vocês tem passado. E para os outros colegas da UEM, sejam também mais críticos. Não é porque estão dizendo o tempo todo que cortaram 38% da verba da UEM que isso é necessariamente verdade... duvidem mais dos nossos amigos do DCE (e duvidem desse blog também, por que não?).

Por Thessaly




domingo, 1 de abril de 2012

META 4 – Uma tempestade em copo d’água


Se você for acreditar no que dizem por aí vai achar que existe uma conspiração do governador Beto Richa, seguindo os passos de Jaime Lerner, para privatizar todas as universidades estaduais do Paraná (ou seria só a UEM?). O primeiro passo dessa suposta privatização seria o sucateamento, onde o governo corta verbas a fim de deixar a universidade em péssimo estado e convencer a opinião pública que a privatização é necessária. Ou seria para vender a faculdade a um preço baixo? Enfim, todos parecem concordar que sucateamento leva à privatização (já ouvi gente falando que a privatização da UEM aconteceria ainda esse ano). Uma das medidas supostamente utilizadas para esse fim pelo nosso odiado governador seria a META 4, que, segundo a interpretação da Movimente-se, acaba com a autonomia universitária.

O que exatamente á a Meta 4? Em seu material distribuído semana passada nas salas da aula da UEM a Movimente-se cita um artigo do decreto 3728/2011:

Art. 23. As despesas de pessoal dos Órgãos da Administração Direta, Órgãos de Regime Especial e Autarquias, incluídas as Instituições Estaduais de Ensino Superior – IEES, deverão processar as respectivas folhas de pagamento mediante utilização do Sistema RH Paraná – META 4.

No material não tem nenhuma explicação sobre o que exatamente significa isso. Talvez porque nem mesmo os membros da movimente-se tenham entendido o significado do texto por trás de todo o legalês.
Não vou negar: não faço direito (tá aí uma pista sobre a minha identidade), mas não vou esconder de vocês nenhum documento que usar nesse post. Pra encontrar esse decreto vá ao site da casa civil do Paraná ou clique aqui.
Dando uma primeira lida temos um documento muito diferente do que se espera de um plano para sucatear as universidades estaduais. O decreto trata do orçamento do Estado inteiro. Alguém que acredita na teoria conspiratória de sucateamento/privatização tem que concluir que o governo pretende privatizar não só as universidades estaduais, mas todos “os Órgãos da Administração Direta, Órgãos de Regime Especial e Autarquias, incluídas as Instituições Estaduais de Ensino Superior”. Praticamente o Paraná inteiro.
Vemos que o trecho citado pela Movimente-se realmente está lá. Ao contrário do caso da “proibição” dos saraus a chapa decidiu não inventar do nada um artigo do decreto. Ao invés disso decidiu citar um artigo fora do contexto e sem explicação ou interpretação. A Movimente-se não mente, mas omite. Existem vários artigos interessantes no decreto que fazem essa história de Meta 4 parecer menos assustadora, como o artigo 7º:

Art. 7º. Os recursos orçamentários do Poder Executivo serão liberados no 1º trimestre conforme a discriminação contida nos incisos deste artigo, cuja execução financeira deverá se adequar a capacidade de pagamento da SEFA.
§ 1º. As liberações automáticas no Sistema COP estão discriminadas a seguir:
a) 100% (cem por cento) das dotações de Pessoal e Encargos Sociais, cujas despesas da folha de pagamento sejam processadas pelos Sistemas SIP e RH Paraná - Meta 4 da Secretaria de Estado da Administração e da Previdência – SEAP, custeadas com recursos das fontes 100 e 145, exceto os elementos 34 e 96;
(...)

Como podemos ver, o decreto explicita que todas as folhas de pagamento processadas pelo sistema RH Paraná – Meta 4 terão seus recursos liberados automaticamente no primeiro trimestre. Inclui-se aí a UEM. Não é uma estratégia muito eficiente se seu plano é sucatear o Paraná todo, mas é bastante eficiente se seu plano – como diz a versão oficial – é organizar as contas do Estado.

No seu material distruído semana passada a Movimente-se escreveu o seguinte:
“Após esse decreto todas as movimentações em relação à folha de pagamento das universidades estaduais ficariam submetidas à expressa autorização da SEAP”

Mais uma vez a Movimente-se não mente, mas omite. Vamos ver o que diz o decreto:

Art. 22. Os acréscimos de despesas de pessoal, entre um mês e outro, somente poderão ser implantados após justificativas do Órgão atinente, mediante expressa autorização da SEAP.
§ 1º. Entende-se como acréscimos as novas implantações de salários, vencimentos, promoções, progressões, outras alterações funcionais, implantações ou alterações de vantagens fixas e eventuais de qualquer natureza, celebração de convênios e termos de parceria, que impliquem em despesas de pessoal, assim como a formalização de aditivos.
§ 2º. Quando solicitado os Órgãos do Poder Executivo encaminharão à SEAP, no prazo por ela estabelecido, planilha analítica comparativa da despesa de pessoal do mês em relação ao mês anterior, acompanhada da justificativa em caso de crescimento.

Vemos que a nova regra não vale apenas para as universidade estaduais, mas para toda a despesa do Estado com pessoal. Estaria o governo Beto Richa querendo privatizar o Paraná todo? É claro que não! Isso é consitente com a versão oficial de que o decreto foi pensado para organizar as contas do Estado.
É bom manter em mente que com ou sem decreto a UEM continua podendo contratar os professores que quiser quando quiser, só precisa justificar o aumento na folha de pagamento. Isso fere a autonomia universitária? A Movimente-se acha que sim, mas isso não é um fato – é uma interpretação.

Autonomia universitária é bom só até certo ponto. Não acho bom que órgão público nenhum possa gastar o dinheiro do povo paranaense sem dar satisfações pro governo que nos representa. Lembrem-se que o dinheiro sendo gasto é o nosso dinheiro, nós deveriamos exigir um maior controle dele e não ser contra qualquer iniciativa nesse sentido. 

Por Reacionário de Merda