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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Greve do HU

Greve no HU de Maringá.
O que significa para cada um de nós que trabalhamos nele?
Para mim, médico intensivista, trabalhando há mais de 15 anos na UTI de adultos e no Pronto Atendimento, é o caos.
A bem da verdade, é mais caos, já que hoje o HU de Maringá, funciona em dificuldades, com muito poucos leitos para a demanda de um Hospital Regional, de referência e elevada complexidade, que oferta quase a metade destes leitos nas UTIs neonatal, pediátrica e de adultos, além de leitos intermediários no PA.
Um Hospital Regional com 2 salas operatórias.
Um Hospital Regional com construções em andamento, lentas.
Um Hospital Regional com deficit de funcionários em todas as áreas, há longo tempo a espera de mais contratações.
Tudo isso, claro, é mais que motivo suficiente para uma greve, certo?!
Pois é, ocorre que… Nenhum destes itens é pauta prioritária da greve nem esteve nas discussões com o Governo até aqui, são “questões locais de cada Universidade”. A prioridade claramente é o plano de cargos e salários. É o que se argumenta empurrou os funcionários à greve.
E o HU de Maringá como fica?
A pergunta fica sem resposta, exceto pelo “vamos incluir no movimento” ou resposta padrão que o valha, que nada explica. Mais ainda, onde esteve o “comando de greve” nestes anos todos em que as coisas iam piorando no HU?
E o HU como fica?
Quem vier dar plantão, cumprir sua escala de trabalho a partir de amanhã no HU, corre o risco de trabalhar sem receber, de ter que trabalhar mais ainda, para manter o atendimento, suprindo a falta que os ausentes farão, com escalas para “cumprir os 30% para manter a legalidade da greve”.
Senão vejamos: 30% calculado como mesmo? 30% menos pessoas na escala ou só 30% dos pacientes? Como vamos recusar - pois é disso que se trata - atendimento? Quem vai “triar” os casos? E os pacientes internados, cuidamos deles só 30% também? Fala-se em “bom senso”, ora! O bom senso passa longe da discussão com a liderança do movimento.
Quem foi que não pensou nessas questões todas antes de decretar a greve?
Aliás, por que greve mesmo? Afirmam eles próprios, que a greve é antes de tudo instrumento político. Com o meu trabalho?!
Pede-se - ou se ordena - que os funcionários da HU “ajudem a operacionalizar a construção do movimento”, já que o fim é vantagem para todos, e a greve pretende ser curta, e tal. E já está decretada, não está em questão!
Todos sabemos, aqui no chão da fábrica do atendimento nos plantões, que precisam de nós para “aparecer da mídia”, “dar força de pressão à greve”. Palavras deles.
Pergunto: como uma assembléia de 500 funcionários pode decidir uma greve que paralisaria um Hospital Regional que tem mais de 900 funcionários e uma Universidade que tem mais de 4000? Não tinham planejado como “operacionalizar” a paralisação do HU não?! Seremos nós, concordando ou não com eles, que vamos ficar com a parte, digamos, mais delicada?
Quem tem prejuízo? A população que deveríamos estar atendendo, que - atenção! - não tem outro Hospital público com estrutura de UTI para atendê-la.
Quem tem prejuízo? Nós mesmos, que vamos continuar trabalhando, naquela angústia de saber se vem o pagamento ou não, se o colega vem ou não, se vou dar conta do corredor ou da unidade, como vou fechar a escala, onde vou deixar meus filhos, se a creche está em greve, e todas as preocupações que o “comando” reputa como “dificuldades que todo mundo tem numa greve, que é assim mesmo”. Afinal, somos apenas uma parte do todo da UEM, e são somente 17 mães aqui nos plantões...
Ora, tenham paciência!

A opinião é minha, é meu direito manifestá-la. Quem tem que ter “propostas” são os líderes do movimento.

Almir Germano
Médico intensivista
Hospital Universitário Regional de Maringá"

2 comentários:

  1. Concordo em gênero e número com a indignação do Almir. Tomo a liberdade de declará-la como minha. Considero que todo trabalhador, esgotadas todas as possibilidades de negociação, tem o sagrado direito de greve para as suas reivindicações. Mas limitar a pauta às questões salariais e de melhoria da carreira, tem um grande potendial de angariar antipatias, principalmente quando uma instituição como o HU é colocada como "bucha de canhão" para atingir este objetivo. a população que tem no SUS a sua única alternativa de atendimento, e no HU a sua tábua de salvação, não merece esta manipulação.
    A greve deve ser respeitada enquanto instrumento legal de reivindicação, mas o comando de greve e os dirigentes sindicais devem refletir sobre o quanto custa para a população que depende do HU para o atendimento das suas necessidades. Isto sem contar com os limites éticos com os quais somos confrontados.
    Ciente do pouco valor que a minha opinião possa ter neste movimento, "tamo junto nessa" Almir.

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  2. Concordando com a opinião dos dois amigos acima, exponho a minha também ciência da necessidade sim de reestruturação de muitas coisas em nossa universidade! Porém acho que o comando de greve e pessoas que dizem apoiar o movimento deveriam ler esses textos.
    Hoje participei da Assembléia e, como acadêmico da UEM, me senti extremamente mal pela forma com que foram tratados os alunos da universidades. Mas não estou aqui para falar de mim ou do meu umbigo, mas sim do que essa greve tem causado, para TODA a sociedade de Maringá.
    Fiquei indignado ao ouvir um dos participantes da Assembléia ir à frente, pegar o microfone e relatar que pela manhã, indo para a universidade, devido aos portões fechados, teve que desviar seu caminho pela morangueira e, devido ao caos instaurado no trânsito acabou batendo seu carro e tendo um alto prejuízo. O problema veio o que ela disse depois, que não nessas palavras mas com o mesmo significado: "eu sei dos prejuízos que uma greve pode causar mas eu assumo esse risco pois virão em troca de benefícios que valem a pena"
    Pensei durante todo o dia sobre isso e me coloquei na situação de alguém que n]ao tem qualquer tipo de envolvimento com a greve ou, pior ainda, não a apóia e também passou pela mesma situação que esta senhora na manhã de ontem. Ela também assumiu esses riscos da greve para ela?
    Acho que as pessoas que encabeçam esse movimento deveria repensar a forma com que têm buscado conseguir seus tão falados "direitos"... Ouvir alguém ir em frente da Assembléia e propor os portões serem abertos e ser vaiado mostra um movimento que pouco tem de democrático e aberto a realmente procurar as melhores soluções...

    Já aproveitando, aconselho que quem for falar e opinar sobre o que vem acontecendo procure não colher informações nem na internet e menos ainda em comentários que ouvimos por ai. Estou aqui dando minha opinião pois fiquei a manhã toda na assembléia e, mesmo assim, meia hora após o término da assembléia na parte da manhã ouvi pessoas afirmando coisas sobre o movimento, totalmente contrárias o que tinha acabado de ser discutido lá dentro, pelos "500" participantes!

    Ser cidadão, crítico e participativo também requer sair da zona de conforto e buscar por si mesmo informações que o habilitem a tomar seu próprio posicionamento!

    André Schiavini
    Acadêmico da UEM

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